história

Minha Origem

Como brasileiro, trago em minha essência a riqueza de uma mistura cultural única. Muitas pessoas, especialmente aqui na Europa, perguntam sobre a origem do meu sobrenome, Nielsen. A resposta nos leva à Dinamarca, mais especificamente a Copenhague, de onde vieram meus bisavós maternos, cujas memórias são representadas nesta fotografia.

Por outro lado, minha ancestralidade paterna revela raízes indígenas e negras brasileiras. Infelizmente, não possuo registros fotográficos dessa parte da minha história. Meus avós maternos, Lúcia Nielsen e Severino Rodrigues de Almeida, tinham origens no norte de Portugal, enquanto meus avós paternos trazem histórias profundamente marcadas. Conheci apenas minha avó paterna, Santa, filha de indígenas e moradora de Demétrio João Neiva, no Espírito Santo, Brasil, onde até hoje vive uma grande concentração de povos originários.

Meu avô paterno, Almir, descendente de escravizados africanos, viveu em Minas Gerais, mas não tive a oportunidade de conhecê-lo, pois ele faleceu quando meu pai tinha apenas 12 anos. Essas narrativas de luta e resiliência são parte indissociável da minha identidade.

Minha trajetória pessoal e artística reflete essa diversidade, buscando celebrar e explorar a interseção entre essas influências. A pluralidade cultural que carrego é a base da arte que crio, compartilhando histórias que conectam o passado ao presente de forma autêntica e inspiradora.

Minhas raízes

Minha história começa a ganhar forma a partir do casamento dos meus pais, Neneu e Dona Mara. Foi quando comecei a enxergar a vida. Nasci em uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, e, após alguns anos, nossa família se mudou para São Paulo, mais precisamente para Parelheiros. Quando meu pai completou 35 anos, ele foi aposentado por invalidez, e decidimos retornar para Minas Gerais.

Cansados da vida em São Paulo, meus pais decidiram recomeçar em Ibiraçu, no Espírito Santo, próximo às raízes da minha avó Santa. Foi lá, em uma vila chamada Pedro Palácios, que vivi minha infância no campo. Pescava, andava a cavalo, ajudava meus pais a cuidar do sítio (quinta) e, acima de tudo, adorava desenhar nos dias de chuva. Nos dias de sol, minha diversão era coletar besouros e borboletas. Nunca me interessei por jogar bola ou fazer as coisas que a maioria das crianças fazia. Sempre fui considerado "estranho", mas me sentia em casa com minhas paixões.

Aos 14 anos, meus pais decidiram voltar para Minas Gerais em busca de melhores condições de estudo para mim e meu irmão mais velho, Cleyton. Pouco depois, comecei a trabalhar em uma gráfica como estafeta. Nos tempos livres, desenhava para o departamento de arte, e foi ali que descobri a possibilidade de ganhar a vida com aquilo que mais amava.

A gráfica era pequena, com apenas uma máquina de impressão de uma cor e uma tipografia. Meu trabalho incluía montar notas fiscais usando letras de ferro para impressão. Apesar das limitações, foi nesse ambiente que meu talento encontrou um propósito. Aos poucos, fui desenvolvendo minhas habilidades e me dedicando ao desenho.

Quando estava prestes a completar 18 anos, decidi sair da casa dos meus pais e buscar aperfeiçoamento na capital, Belo Horizonte. Essa decisão marcou o início de uma jornada que me trouxe até aqui, vivendo da arte e do design, algo que começou com traços tímidos em dias de chuva e se transformou em minha maior realização.

Meu sacrificio

Em busca de uma vida melhor, imigrei para a Europa no dia 22 de setembro de 2004, iniciando uma nova jornada. Minha ideia inicial era adquirir conhecimento nas áreas de design e fotografia para depois retornar a Belo Horizonte. Porém, a vida seguiu um rumo bem diferente do que eu havia planejado. Apesar de ter que me distanciar da minha família — meu pai, minha mãe e meu irmão —, migrar foi a melhor decisão que tomei.

Como todo imigrante, enfrentei muitos desafios. A dor, porém, me transformou de forma genuína, ensinando-me a valorizar o que realmente importa na vida. Vivi em vários países da Europa, como Itália, Portugal e Alemanha, e conheci dezenas de outros, acumulando experiências que me inspiraram profundamente.

Com o tempo, a Europa começou a parecer pequena, e decidi explorar novos horizontes. Parti para a África, onde tive o privilégio de trabalhar como fotógrafo e diretor de arte em diversos países. Essa etapa foi enriquecedora e marcou profundamente minha trajetória.

Após alguns anos, retornei à Europa, indo viver em Londres. Foi como se o chão se abrisse sob meus pés. Londres, uma cidade que sempre me inspirou, mudou minha perspectiva de forma definitiva. Desde a primeira vez que pisei lá, nunca mais fui o mesmo. Essa experiência foi profundamente impactante e decisiva para minha evolução como artista.

A arte é vital

Essa foi a fase que mudou minha vida de forma profunda, pois foi quando comecei a perder as coisas mais valiosas deste mundo: meus pais. Em 2014, como sempre fazia, fui passar uma semana no Brasil com eles. Tivemos momentos incríveis juntos, e meu pai estava bem. Despedi-me dele e retornei para Londres. No dia 26 de dezembro, recebi a notícia de que ele havia se deitado e não acordara no dia seguinte.

Esse momento me paralisou. Foi como se o tempo parasse, obrigando-me a refletir profundamente sobre minha vida e meu propósito. Pouco depois, durante uma conversa em um café com meu amigo Januário Jano, aconteceu a virada. Decidi parar com tudo e me dedicar 100% à arte. Foi aí que nasceu *Gigantes por Natureza*.

Voltei ao Brasil e iniciei uma busca incansável para encontrar minha voz na arte autoral. Foi na minha infância que achei as respostas. Voltei às minhas raízes no campo, onde tive contato direto com a natureza. Desde criança, sempre fui fascinado por insetos — suas formas complexas, suas cores vibrantes e sua beleza intrínseca. Decidi, então, retratá-los de maneira única, unindo pintura e fotografia com um olhar diferenciado.

Em 2015, produzi minhas primeiras imagens. A primeira coleção que fotografei foi composta por insetos coletados pelo grande patrono da biologia brasileira, Augusto Ruschi. Embora ainda estivesse longe de atingir o nível técnico e artístico que desejava, esse trabalho foi extremamente marcante. Ali, tive a certeza do que queria fazer pelo resto da minha vida.

Desde então, sigo nessa jornada infinita, buscando pelos insetos mais belos e exóticos do mundo. Eles continuam a me inspirar e a me conectar com a essência da natureza, guiando meu trabalho e minha vida.